FINITO
José Araujo de Souza
Quando olhamos no espelho e já não vemos mais, lá,
refletida, a nossa imagem;
Quando andamos pelas ruas, durante horas, e não percebemos mais
nenhum sorriso que nos é endereçado;
Quando a dor da emoção ferida, em nosso peito, é maior,
mil vezes maior que a dor física;
Quando o amor que temos para dar é tão grande e tão desesperado
que não nos atrevemos a deixá-lo com quem queremos;
Quando precisamos ter muito e sentimos aumentar a fração do tempo
entre as gotas que recebemos, é melhor, bem melhor, que deixemos ficar o nosso corpo
estendido, escorraçado, esfarrapado e miserável, sem velas, sem flores, sem nada, numa vala distante ou num lugar ermo qualquer de uma estrada que não leve a nenhum lugar.
Assim, sem nenhuma cruz como referência, teremos a paz e o reconhecimento de nossa real condição de mortos insepultos.