Arestas

Jéssica de Souza Carneiro
Refuto aqui a ideia de Freud de que Deus é um pai castrador.
Essa crença separa, desune, assusta, cerceia. O meu Deus é composto
de três elementos. O primeiro deles é o amor. O outro é a bondade;
depois, a natureza.
Para mim, ter fé é andar pelo mundo, conhecer os abismos e
não cair… Não machucar feridas alheias e não ferir a si próprio.
Não devo me queixar de nada. Devo fazer por merecer ser
aquilo que sou, ter o que conquistei… Colher na Terra o que plantei
nela e tentar, por mérito próprio, no céu, alcançar o sol, mas não um
sol que pune, e sim um sol que premia.
As pessoas duvidam disso, embora acreditem cegamente em
visões muito mais turvas e embaçadas.
Deixam-se levar pela maré, pela constância da verdade absoluta,
pela segurança da sanidade inconteste.
Se um dia eu pudesse endoidecer desse amor que é Deus… Eu
veria tudo branco, como a cor da luz que escapa pelas arestas, como a
cor envolta dos teus olhos, como a cor da minha lucidez agora.
CARNEIRO, J. S. . Arestas. In: Diretoria de Apoio à Cultura Proex/UFPA. (Org.). II Prêmio Proex/UFPA de Literatura Antologia POesias, Crônicas e Contos. 22ed.b: UFPA, 2011, v. 2, p.